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Rudolf Steiner

 

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Rudolf Steiner nasceu em 27 de fevereiro de 1861 em Kraljevec (atual Iugoslávia), filho de um funcionário ferroviário subalterno. Com a idade de 18 anos entrou para a Escola Politécnica de Viena, onde estudou matemática, ciências, literatura, filosofia e história, desenvolvendo um interesse especial por Goethe. Três anos mais tarde, ainda em Viena, ele foi contratado para editar as obras científicas de Goethe para a enciclopédia literária Kurschner's Nationalliteratur; de 1890 a 1897, no Arquivo de Goethe e Schiller em Weimar, trabalhou na edição de praticamente toda a obra científica de Goethe publicada ou não até então. Sua autobiografia conta como nessa época ele gozava da amizade de várias personalidades eminentes, tais como Ernst Haeckel, o dogmático expoente da evolução darwinista, e o historiador Hermann Grimm. Foi também durante esse período que ele concluiu seu doutoramento na universidade de Rostock, com uma tese que foi posteriormente revista e publicada sob o título de Wahrheit und Wissenschaft ( Verdade e Ciência, São Paulo: Ed. Antroposófica, 1985).

 

Durante os próximos 4 anos Steiner envolveu-se profundamente na vida intelectual de Berlim - sociedades dramáticas e literárias, revistas, etc. - enquanto começava a sua atividade de palestrante, que duraria toda a sua vida, dando cursos sob os auspícios do Movimento Educacional dos Trabalhadores.

Foi somente na virada do século que veio à luz o seu verdadeiro gênio, incapaz de expressar-se por meio daqueles meios, mas que vinha progressivamente amadurecendo dentro dele. O momento histórico era tal que a mente ocidental tinha atingido o materialismo mais profundo, e havia poucos que estavam dispostos a simplesmente ouvir o que ele tinha a dizer. Dignos de nota dentre esses poucos encontravam-se os membros da Sociedade Teosófica, que estavam trabalhando na fundação de uma seção alemã. Steiner tornou-se membro, passando a ser seu diretor (sob a condição de que estaria livre para divulgar os resultados de sua própria pesquisa espiritual, independentemente de estarem ou não de acordo com as linhas da Sociedade) e assim permaneceu durante alguns anos, até que o sensacionalismo e a trivialidade, que ele sentiu estarem corroendo o impulso sadio que havia levado à fundação da Sociedade, obrigaram-no a separar-se dela de vez.

 

Os dez anos seguintes de sua vida são melhor vistos como a primeira fase do Movimento Antroposófico, e em 1913 a sociedade que leva esse nome foi fundada pelos seus seguidores em München, onde seus 4 Dramas de Mistério foram posteriormente escritos e produzidos. Não há espaço aqui para abordar a diferença entre a Sociedade Antroposófica Geral, que ele pessoalmente fundou em dezembro de 1923, pouco mais de 2 anos antes de sua morte em 30 de março de 1925. É suficiente dizer que, de 1902 até o fim de sua vida, ele devotou todas suas energias (escrevendo cerca de 40 livros e dando nada menos que 6.000 palestras) ao cultivo e disseminação da Antroposofia - que ele também denominou de Ciência Espiritual - e, finalmente, às questões da Sociedade Antroposófica, que ele esperava fosse tornar-se o germe de uma comunidade mundial de almas humanas.

Basta de aparências. Quanto à substância de seus ensinamentos e de sua vida, eu não posso encará-lo de outro modo do que uma figura central - talvez, no âmbito humano, afigura central - na sofrida transição da humanidade daquilo que me aventurei a chamar de "participação original" para a "participação final". A fase crucial naquela transição foi, e de fato é, o hábito inveterado do ser humano moderno de vivenciar a matéria vazia de espírito, e conseqüentemente de conceber o espírito como menos real e, finalmente, totalmente irreal. Essa vivência, para o bem ou para o mal, reside nos fundamentos da ciência e tecnologia modernas, e é diariamente confirmada e arraigada pela predominância das mesmas em todas as áreas da vida e do pensamento. Portanto, a redenção da ciência é uma condição sine qua non para a transição. A obra científica de Goethe, adequadamente entendida, estendeu-se bem longe no sentido de atingir essa redenção, e Steiner saudou-a por essa razão e trabalhou no sentido de desenvolvê-la ainda mais. Vemos Goethe atingindo e aplicando o que ele denominou de "pensamento objetivo", uma atividade e uma vivência que transcende o abismo entre sujeito e objeto, e portanto suplanta aquela cisão da matéria do espírito à qual me referi. A redenção da ciência pressupõe a redenção do próprio pensamento.

 

Mas Goethe recusou-se a pensar sobre o "pensamento objetivo", que havia aplicado com tanta eficácia. Por outro lado, Steiner fez precisamente isso e em seus primeiros escritos, por exemplo em Verdade e Ciência e A Filosofia da Liberdade (São Paulo: Ed. Antroposófica, 2000), conseguiu inclusive transcender, epistemologicamente, a crucial dicotomia. O pensamento de outros, tais como Hegel e os filósofos naturalistas na Alemanha, bem como Coleridge na Inglaterra, tomaram a mesma direção, mas nenhum deles tinha atingido sua meta de maneira tão contundente ou tão completa. Coleridge pôde escrever sobre "órgãos de espírito", com uma função latente análoga à de nossos órgãos de sentido mais imediatamente disponíveis, e Goethe pôde aplicar seu pensamento objetivo de modo a complementar a causalidade com a metamorfose. Mas nenhum deles conseguiu levar a cognição do espírito além do "espírito-como-fenomenologicamente-aparente" na natureza externa; foi em Steiner que a mente e o método ocidentais atingiram, pela primeira vez, a cognição do espírito puro. Os outros foram todos apóstolos da Imaginação, em seu melhor sentido; Steiner foi o único dos níveis mais profundos que ele próprio denominou de Inspiração e de Intuição, mas que podem ser concebidos em conjunto com sendo a Revelação - como Revelação na forma apropriada a esta era - como um modo de cognição, para a qual a base numênica [N.T.: referente ao objeto em si, independente da observação sensorial] da existência é acessível diretamente, e não somente por meio de sua manifestação fenomenológica, à qual mesmo o passado remoto pode tornar-se um livro aberto.

Parece que, em qualquer ponto do tempo, quando a consciência humana é chamada a tomar uma nova direção inteiramente diferente, para se obter uma real transição, é necessária uma semente que sobrevive do passado, a fim de dar abrigo ao tenro germe do futuro. Aristoteles, o pai da ciência moderna, carregou dentro de si os seus 20 anos sob Platão de modo a poder efetivamente abandoná-los. Nos primeiros anos do cristianismo, aqueles em que ainda restava algo da velha percepção espiritual é que eram os melhor adaptados para compreender o significado cósmico da vida e da morte do Cristo. O gnosticismo cumpriu sua tarefa antes de ser rejeitado pela Igreja. O próprio Steiner, como criança, trouxe consigo ao mundo um vestígio da relíquia da velha clarividência, a antiga participação "original". Biografias e sua própria autobiografia dão testemunho disso. E é relatado sobre ele, com credibilidade, que ele tomou passos deliberados para eliminá-la, nem mesmo rejeitando o auxílio do álcool, de modo a limpar o terreno para a nova clarividência que estava em seu destino tanto predizer quanto desenvolver.

 

De fato, Rudolf Steiner não era meramente um filósofo com uma cultura fenomenal, claro e expressivo, mas também era um Homem Predestinado; em minha opinião esse fato é a causa do lamentável retardamento de seu reconhecimento. Em comparação, não somente com seus contemporâneos, mas com a história geral da mente ocidental, a sua estatura é quase excessiva demais para ser suportada. Por que deveríamos aceitar que um único ser humano seria capaz de todas essas revelações, independente de quão relevantes elas possam ser? Mas há também o outro lado da moeda. Se suas revelações são aceitas, elas produzem uma carga de responsabilidade para a humanidade que é por si própria quase indescritível. É fácil falar do macrocosmo e do microcosmo, mas para o ser humano microcósmico, não somente supor, mas realizar-se a si próprio como tal, implica numa grandeza de espírito, uma capacidade de mente e coração, que somente podemos considerar como sendo super-humana, em lugar de meramente humana. As capacidades mentais reveladas no trabalho da vida de Steiner, mesmo para aqueles que rejeitam suas descobertas, e as qualidades de coração e de vontade que são testemunhadas por todos que tiveram relacionamento pessoal com ele, podem nos garantir, por meio desse exemplo, que a estatura do microcosmo não está, ou pelo menos pode não estar no futuro, fora do alcance do ser humano tal como o conhecemos. Nele observamos, de fato começando a ocorrer, a transição do homo sapiens para o homo imaginans et amans.

 

Owen Barfield

(revista eletrônica Southern Cross Review - 03/2002)

 

fonte: Sociedade Antroposófica do Brasil /SAB

 

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